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26 de Abril de 2024

Casal de idosos decide morrer junto em suicídio assistido

Publicado por Pedro Anelli
há 10 anos

BRUXELAS – Com medo da solidão, um casal belga de idosos tomou uma difícil decisão: eles irão morrer juntos. Identificados apenas pelo primeiro nome, Francis, de 89 anos, e sua esposa, Anne, de 86, pretendem cometer suicídio assistido no dia 3 de fevereiro do ano que vem, data em que comemoram 64 anos de casados. A decisão tem apoio dos filhos, que compreendem a vontade dos pais e ajudaram na busca por um médico que aceitasse fazer o procedimento. A eutanásia é legalizada na Bélgica desde 2002.

O caso chama atenção porque nenhum dos dois sofre de doença em estado terminal. O que impulsiona a vontade pela eutanásia é o medo de ficar sozinho caso um dos dois morra antes. Contudo, ambos já sentem os sinais da idade. Francis recebe tratamento para um câncer de próstata há 20 anos e constantemente é medicado com morfina, enquanto Anne é parcialmente cega e quase totalmente surda.

O medo da solidão é tão grande que os dois vão sempre ao mercado juntos, temendo que o outro não retorne para casa. Entre as opções para os próximos anos, a eutanásia foi o melhor caminho escolhido por uma série de fatores. O casal descartou a opção de homecare, pois teme perder as forças para decidir pelo suicídio assistido, assim como não poderiam ser internados em uma casa de repouso, pois os custos são maiores que as pensões que recebem.

- Nós queremos ir juntos porque nós dois tememos pelo futuro – disse Francis, ao jornal britânico “Daily Mail”. - É simples assim: temos medo do que vem pela frente. Medo de ficar sozinho e, acima de tudo, medo das consequências da solidão.

Segundo Francis, a eutanásia foi o método escolhido porque eles não teriam coragem para cometer suicídio:

-É preciso coragem para se atirar de um prédio, é preciso coragem para se enforcar, é preciso coragem para se jogar em um canal. Mas um médico te dar uma injeção e você dormir calmamente? Para isso não é preciso coragem.

O filho do casal, John Paul, considera a decisão dos pais a “melhor solução”. Segundo ele, os dois conversavam sobre planos de morrer juntos como se estivessem planejando uma viagem de férias. Tanto ele, como a irmã, foram os responsáveis por encontrar um médico dispostos a realizar o procedimento após a recusa do profissional que atende a família.

- Se um dos dois morresse, o que restasse ficaria muito triste e estaria totalmente dependente de nós. Seria impossível virmos todos os dias para cuidar do nosso pai ou da nossa mãe – disse John Paul.

A eutanásia dupla não será a primeira na Bélgica, país que realiza uma média de cinco mortes por dia com injeção letal. Em 2012, os gêmeos surdos Marc e Eddy Verbessem, de 45 anos, receberam o direito de morrer após descobrirem que ficariam cegos. Este mês, Van Den Bleeken, condenado a prisão perpétua por estupro e assassinato, também teve concedido o direito à eutanásia.

Casos como o do casal de idosos levanta discussões sobre os limites da eutanásia e o suicídio assistido. Pela lei, o pedido deve ser feito pelo paciente, de forma consciente, e ele deve sofrer sobre “constante e insuportável dor física ou psicológica” resultante de acidente ou doença incurável.


Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/saúde/casal-de-idosos-decide-morrer-junto-em-suicidio-assistido-14...

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46 Comentários

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O intenso apego à vida é possivelmente um dos maiores dogmas da nossa cultura judaico-cristã ocidental.

Na minha opinião tanto a cultura como o sistema jurídico belga são extremamente evoluídos, e admiráveis. continuar lendo

Existem discussões filosóficas que encaram o suicídio como ato magno da coragem e do poder de escolha de um ser humano, quase uma sublimação da consciência. Entretanto, imagina como seria discutido em uma sociedade que nem mesmo consegue admitir que há morte. continuar lendo

discordo, Caio, o instinto de sobrevivência não é um dogma religioso ou cultural, é biológico e é comum a quase todas as espécies vivas. No caso humano a psicologia o tem como o mais forte instinto. O desejo de suicídio é justamente uma perturbação nesse instinto causado por alguma doença, tal como a depressão. continuar lendo

Concordo, e a declaração do filho é tão descarada e egoísta q me deu nojo:
"- Se um dos dois morresse, o que restasse ficaria muito triste e estaria totalmente dependente de nós. Seria impossível virmos todos os dias para cuidar do nosso pai ou da nossa mãe". Foi muito infeliz... Tanto amor e sobrou filhos sem um pingo de dignidade. continuar lendo

Egoísta mesmo, a declaração do filho! continuar lendo

Nossa bom é a praticidade dos filhos parece que estão resolvendo pra ver quem vai ao supermercado ou não !! acho que se os pais realmente tivesse certeza que mesmo um deles morrendo teria ainda uma família para não ficar sozinho não teria tomado uma decisão tão drástica, mas quem sou eu pra julgar se lá é normal os pais se suicidarem porque os filhos não vão ter tempo de cuidar ! Sendo apenas um questão dos idosos dispor da própria vida sendo um direito deles dispor como quiserem!! mas não acredito que isso seja um sinônimo de evolução, mas de praticidade para eles. não creio que seja uma questão de religião mas sim de amor a vida independente da religião que adota num senso normal ninguém quer morrer!! são situações excepcionais que te levam a decisões tão drásticas!!! a única coisa é que só o medo da morte ou solidão não deveria ser base para a eutanásia, já que estamos sujeitos a ambos sendo jovens ou velhos continuar lendo

Srta. Marilha:
Muito bonito seu discurso, mas será que quando você tiver quase 90 anos, morar em cidade diversa da de seus filhos, vai pensar da mesma forma?
Não vejo como negar apoio a decisão dos idosos.
Visto por outro angulo, não seria nada mais, nada menos que uma verdadeira prova de amor, reciproca, do casal. continuar lendo

Marília, sua preocupação é compreensível pelo fato de estar habituada à nossa cultura e religiosidade mas, para um casal que tem uma convivência de 63 anos e caminhando para os 64, temos que entender que a perda, um do outro, deve ser algo literalmente insuportável no estágio atual de suas vidas. Veja que o texto diz claramente que o homem se encontra em tratamento de câncer de próstata há 20 anos e sob medicação de morfina portanto, com dores constantes, e que a mulher já é praticamente cega e caminhando para a surdez. Nestas condições e na idade em que se encontram, reduzir o sofrimento que estarão sujeitos por mais alguns anos, provavelmente será o maior ato de maior bondade possível.
Quando nossa saúde se abala transitoriamente mas sabemos que iremos nos recuperar, temos que lutar para nos mantermos vivos e obter a cura mais rápida possível, porém, se estamos como um automóvel "sem freios e ladeira abaixo", não há retorno viável, e cada dia que passa será apenas mais um dia de agonia e sofrimento, e colocar um termo a esta vida será também coloca-lo a um sofrimento extremo, chegando até a ser um ato de "clemencia"... continuar lendo

A questão não é essa, mas ver a opção de eutanásia porque se sua mãe ou pai morrer não vai poder ficar com ele, não acredito que seja um motivo para um procedimento tão drástico acredito se tivesse suporte dos filhos de que não ficariam na solidão não seria essa decisão, meus pais poderiam morar em marte se um deles ficassem sozinho moraria comigo com certeza não teria a opção já que não tem um o outro tem que morrer, eu respeito a decisão dos idosos afinal a vida é deles, mas a frieza dos filhos como se tivesse cuidado de um assunto banal realmente é lamentável... Eu não julgo mais não concordo tenho esse direito..Sou a favor da eutanásia mas por outras razões, não porque tenho medo de ficar sozinha ou da morte,.. até porque se um pai ou uma mãe não tem condições de criar um filho eles não vão fazer uma eutanásia do filho!! óbvio que não, mas os filhos podem permitir isso porque não podem ficar com os pais.. continuar lendo

Exatamente José sob esse aspecto concordo com você, se eles são doentes não há cura e o sofrimento é constante sem levar a nada realmente eu concordo, mas a justificativa da solidão ou medo da morte de quem vai primeiro e pelo fato dos filhos não poder fica com um deles realmente essas razões não concordo para tal procedimento!!..e não acredito que seja questão religiosa minha posição, até porque se eu fosse ateu não iria gostar de morrer do mesmo jeito e qualquer perda de parente querido é dolorosa seja com que idade for é o processo que passamos na vida que um dia vamos embora!! e aqueles que amamos também.. continuar lendo

Marília, neste último texto você já respondeu a questão, acho que para você não ficou claro que a decisão pela eutanásia pertenceu aos dois idosos, com dores, cegos e surdos, e NÃO aos FILHOS, estes simplesmente não contestaram a decisão (que não foi deles), até entendendo que, em razão de terem suas próprias famílias, trabalho e compromissos, não poderiam dar um atendimento necessário para alguém nestas condições e que necessitaria de uma assistência "full time". continuar lendo

Acho interessante uma pessoa, numa situação de lucidez e que não esteja movida por impulsos quaisquer, poder decidir se quer continuar com sua vida.

Isso está relacionado à dignidade da pessoa. No caso em questão, o casal de idosos reconheceu que nenhum dos dois gostaria de continuar com a própria vida sem o outro.

Nesse caso, especificamente, são duas pessoas que passaram 64 anos juntas! E, dadas suas condições físicas e idades, tocar a vida em frente não parece uma opção das mais simples.

Acho que o estado belga questionaria a decisão se tivesse partido de um casal de 20 anos de idade e 2 anos de casados...

Eu arriscaria dizer que o amor que têm um pelo outro os mantém vivos. Portanto, que vida restaria a qualquer um dos dois que sobrevivesse? continuar lendo

Bem que os filhos deles poderiam aproveitar e ir na onda da injeção letal também, já que "amam" tanto seus pais ao ponto de ajudá-los a se matar... É mais fácil do que ajudá-los a viver felizes os dias que lhes restariam, né? Dois problemas a menos pros filhões evoluídos.

Família tá virando um nada mesmo, e ainda acham isso uma "evolução extrema"... Só lamento! continuar lendo

Lamento juntamente com você Fabio!
Ler este trecho me deu arrepio: "Se um dos dois morresse, o que restasse ficaria muito triste e estaria totalmente dependente de nós. Seria impossível virmos todos os dias para cuidar do nosso pai ou da nossa mãe – disse John Paul."
Lamentável a postura de dois filhos... continuar lendo

Sei não, lá a cultura é muito diferente daqui. O latino (de forma geral) é muito apegado a família, demoramos para sair de casa e quando saímos não nos desligamos completamente. A lógica por lá é outra, cada um tem sim sua vida, os filhos são criados para sair de casa, os pais se preparam para encarar a velhice com o/a parceiro/a. É muito difícil fazer um juízo de valor dessa distância e com pouca informação. continuar lendo

É importante lembrar que a decisão partiu do próprio casal.

Reescrevo aqui meu comentário:

"Acho interessante uma pessoa, numa situação de lucidez e que não esteja movida por impulsos quaisquer, poder decidir se quer continuar com sua vida.

Isso está relacionado à dignidade da pessoa. No caso em questão, o casal de idosos reconheceu que nenhum dos dois gostaria de continuar com a própria vida sem o outro.

Nesse caso, especificamente, são duas pessoas que passaram 64 anos juntas! E, dadas suas condições físicas e idades, tocar a vida em frente não parece uma opção das mais simples.

Acho que o estado belga questionaria a decisão se tivesse partido de um casal de 20 anos de idade e 2 anos de casados...

Eu arriscaria dizer que o amor que têm um pelo outro os mantém vivos. Portanto, que vida restaria a qualquer um dos dois que sobrevivesse?" continuar lendo